terça, 15 de julho de 2025

Será que Elinaldo errou? Opinião sobre ciência política e a estratégia de Flávio Matos

Anderson Santos - Pedagogo e especialista em ciências políticas e filosofia.

10/07/2025

Será que Elinaldo errou? Opinião sobre ciência política e a estratégia de Flávio Matos

Nessa quarta-feira de 09/07, num concorrido programa de rádio matinal, o ex-prefeito Elinaldo comentou que Flávio Matos estaria agindo orientado por cientistas políticos e pitaqueiros da política. Levando essa afirmação em consideração, venho a público e em defesa da nossa categoria, dizer o seguinte: um cientista político de verdade não diz ao político o que ele quer ouvir. Ele apresenta os cenários, analisa os riscos, mede os efeitos e mostra os desdobramentos de cada movimento.

Se Flávio realmente foi orientado por um cientista político, então vamos assumir esse exercício e analisar o que qualquer estrategista sério apontaria com base nos fatos concretos. Porque, às vezes, o que parece um rompimento estratégico é só vaidade disfarçada de cálculo.

Flávio Matos teve 77.724 votos na eleição municipal de 2024, um número expressivo que reforçou sua liderança local, mesmo com a derrota. Mas o gesto que veio depois surpreendeu e decepcionou: o rompimento com Elinaldo, seu padrinho político, o líder que o ajudou a ser presidente da Câmara, bancou sua candidatura contra o peso de influentes do grupo e deu a ele um projeto pronto para liderar. Flávio rompeu com quem lhe deu estrutura e caminho.

A justificativa apresentada por ele nos bastidores — de que não poderia cumprir os compromissos com Paulo Azi e Manoel Rocha, deputados indicados por Elinaldo para dobrar em Camaçari — soa menos como dificuldade política e mais como um álibi para uma decisão já tomada. O argumento de que “não tinha como manter o acordo” porque perdeu a eleição revela uma visão de aliança oportunista: se ganho, mantenho; se perco, rompo. Essa lógica é perigosa para qualquer grupo político que queira durar. Flávio demonstra ser político que age segundo suas próprias conveniências e não está disposto a andar em grupo.


Compromissos políticos não têm garantias — só palavra


Na política, não se assina contrato com firma reconhecida. Não há cláusula de multa, não existe fiador. O que vale é a palavra. Em outros ambientes, como no mundo empresarial, existem notas promissórias, garantias bancárias, seguros e registros formais. Na política, o que sustenta uma aliança é a confiança.

E Flávio quebrou esse valor. Ao romper com o grupo que lhe deu sustentação, ele transmitiu a todos — dentro e fora do projeto — que sua palavra depende do resultado das urnas, não de convicção ou lealdade. Isso o inviabiliza como nome futuro para disputar novamente a prefeitura pelo grupo, porque a base que o sustentaria não confia mais que ele manterá qualquer acordo.


A falsa necessidade de estar sempre na urna


Flávio justifica sua movimentação dizendo que precisa se manter na urna para continuar vivo politicamente. Esse raciocínio pertence a um tempo antigo, anterior às redes sociais, quando o político precisava ser candidato em toda eleição para não ser esquecido. Hoje, com presença digital, estratégia de comunicação, posicionamento constante e trabalho de base, um nome público pode continuar forte mesmo fora da disputa formal.

Ser candidato sem base e sem propósito pode ter o efeito oposto: desgaste e desconfiança.


Ivoneide Caetano não é ameaça para justificar ruptura


Outra justificativa trazida por Flávio é a necessidade de enfrentar Ivoneide Caetano, que será candidata a reeleição à câmara federal, para fortalecer o grupo de oposição para 28. Mas essa tese não resiste à realidade. Em 2014, Elinaldo foi candidato a deputado estadual, Caetano a federal, e em 2016, Elinaldo venceu Caetano e se tornou prefeito de Camaçari. A disputa federal em 2026 não define o cenário de 2028.

O que define é o trabalho entre eleições, a construção de base, narrativa, confiança e articulação. O grupo de oposição liderado por Elinaldo já mostrou força para vencer o PT em qualquer nível de disputa.


Flávio age como uma coluna auxiliar do PT


Na ciência política, comportamentos como o de Flávio são classificados como “coluna auxiliar”. Mesmo sem estar oficialmente com o adversário, enfraquecer a estrutura do próprio grupo fortalece, indiretamente, o adversário. Ao romper com Elinaldo, se isolar dos 12 vereadores da oposição e fragilizar a linha de frente do projeto, Flávio presta um serviço — mesmo que inconsciente — ao grupo do PT e de Caetano em Camaçari.

Ele fragmenta o campo político que deveria estar unido, quebra a confiança entre lideranças e oferece discurso pronto aos adversários.


Elinaldo falou com firmeza e coerência


Em entrevista recente, Elinaldo não atacou, mas falou com firmeza. Apontou a incoerência da ruptura, reafirmou os compromissos do grupo e demonstrou que o projeto de oposição em Camaçari não se resume a nomes, mas a um conjunto político consistente, com força territorial, lealdade mútua e capacidade de renovação.

O que Flávio rompeu não foi apenas com uma liderança — foi com um grupo inteiro, com uma ideia de projeto político sólido e com a base de confiança que sustenta qualquer caminhada pública duradoura.


O gesto fala mais que o discurso


Flávio ainda não confirmou publicamente sua candidatura a deputado federal. Mas os gestos já dizem tudo. Na política, os movimentos falam antes das palavras. E esse movimento não aponta para liderança, aponta para isolamento. Não sinaliza firmeza, mas instabilidade.


Deixo aqui o meu desafio