Nessa quarta-feira de 09/07, num
concorrido programa de rádio matinal, o ex-prefeito Elinaldo comentou que
Flávio Matos estaria agindo orientado por cientistas políticos e pitaqueiros da
política. Levando essa afirmação em consideração, venho a público e em defesa
da nossa categoria, dizer o seguinte: um cientista político de verdade não diz
ao político o que ele quer ouvir. Ele apresenta os cenários, analisa os riscos,
mede os efeitos e mostra os desdobramentos de cada movimento.
Se Flávio realmente foi orientado
por um cientista político, então vamos assumir esse exercício e analisar o que
qualquer estrategista sério apontaria com base nos fatos concretos. Porque, às
vezes, o que parece um rompimento estratégico é só vaidade disfarçada de
cálculo.
Flávio Matos teve 77.724 votos na
eleição municipal de 2024, um número expressivo que reforçou sua liderança
local, mesmo com a derrota. Mas o gesto que veio depois surpreendeu e
decepcionou: o rompimento com Elinaldo, seu padrinho político, o líder que o
ajudou a ser presidente da Câmara, bancou sua candidatura contra o peso de
influentes do grupo e deu a ele um projeto pronto para liderar. Flávio rompeu
com quem lhe deu estrutura e caminho.
A justificativa apresentada por
ele nos bastidores — de que não poderia cumprir os compromissos com Paulo Azi e
Manoel Rocha, deputados indicados por Elinaldo para dobrar em Camaçari — soa
menos como dificuldade política e mais como um álibi para uma decisão já
tomada. O argumento de que “não tinha como manter o acordo” porque perdeu a
eleição revela uma visão de aliança oportunista: se ganho, mantenho; se perco,
rompo. Essa lógica é perigosa para qualquer grupo político que queira durar.
Flávio demonstra ser político que age segundo suas próprias conveniências e não
está disposto a andar em grupo.
Compromissos políticos não têm garantias — só palavra
Na política, não se assina
contrato com firma reconhecida. Não há cláusula de multa, não existe fiador. O
que vale é a palavra. Em outros ambientes, como no mundo empresarial, existem
notas promissórias, garantias bancárias, seguros e registros formais. Na
política, o que sustenta uma aliança é a confiança.
E Flávio quebrou esse valor. Ao
romper com o grupo que lhe deu sustentação, ele transmitiu a todos — dentro e
fora do projeto — que sua palavra depende do resultado das urnas, não de
convicção ou lealdade. Isso o inviabiliza como nome futuro para disputar
novamente a prefeitura pelo grupo, porque a base que o sustentaria não confia
mais que ele manterá qualquer acordo.
A falsa necessidade de estar sempre na urna
Flávio justifica sua movimentação
dizendo que precisa se manter na urna para continuar vivo politicamente. Esse
raciocínio pertence a um tempo antigo, anterior às redes sociais, quando o
político precisava ser candidato em toda eleição para não ser esquecido. Hoje,
com presença digital, estratégia de comunicação, posicionamento constante e
trabalho de base, um nome público pode continuar forte mesmo fora da disputa
formal.
Ser candidato sem base e sem
propósito pode ter o efeito oposto: desgaste e desconfiança.
Ivoneide Caetano não é ameaça para justificar ruptura
Outra justificativa trazida por
Flávio é a necessidade de enfrentar Ivoneide Caetano, que será candidata a
reeleição à câmara federal, para fortalecer o grupo de oposição para 28. Mas
essa tese não resiste à realidade. Em 2014, Elinaldo foi candidato a deputado
estadual, Caetano a federal, e em 2016, Elinaldo venceu Caetano e se tornou
prefeito de Camaçari. A disputa federal em 2026 não define o cenário de 2028.
O que define é o trabalho entre
eleições, a construção de base, narrativa, confiança e articulação. O grupo de
oposição liderado por Elinaldo já mostrou força para vencer o PT em qualquer
nível de disputa.
Flávio age como uma coluna auxiliar do PT
Na ciência política,
comportamentos como o de Flávio são classificados como “coluna auxiliar”. Mesmo
sem estar oficialmente com o adversário, enfraquecer a estrutura do próprio
grupo fortalece, indiretamente, o adversário. Ao romper com Elinaldo, se isolar
dos 12 vereadores da oposição e fragilizar a linha de frente do projeto, Flávio
presta um serviço — mesmo que inconsciente — ao grupo do PT e de Caetano em
Camaçari.
Ele fragmenta o campo político
que deveria estar unido, quebra a confiança entre lideranças e oferece discurso
pronto aos adversários.
Elinaldo falou com firmeza e coerência
Em entrevista recente, Elinaldo
não atacou, mas falou com firmeza. Apontou a incoerência da ruptura, reafirmou
os compromissos do grupo e demonstrou que o projeto de oposição em Camaçari não
se resume a nomes, mas a um conjunto político consistente, com força
territorial, lealdade mútua e capacidade de renovação.
O que Flávio rompeu não foi
apenas com uma liderança — foi com um grupo inteiro, com uma ideia de projeto
político sólido e com a base de confiança que sustenta qualquer caminhada
pública duradoura.
O gesto fala mais que o discurso
Flávio ainda não confirmou
publicamente sua candidatura a deputado federal. Mas os gestos já dizem tudo.
Na política, os movimentos falam antes das palavras. E esse movimento não
aponta para liderança, aponta para isolamento. Não sinaliza firmeza, mas instabilidade.
Deixo aqui o meu desafio